Há um ano, algumas pessoas incautas pensaram que a pandemia iria durar no máximo uns três meses. Passado seis, pensou-se que em doze meses tudo estaria resolvido. Até que a ficha caiu que isso não aconteceria tão cedo, mas pensamos que ao menos já estaria controlada e que poderíamos voltar a algum contato humano e aos nossos postos de trabalho presencial.
Bem, talvez isso fosse possível se tudo tivesse sido diferente, se esse governo que não faz nada além de disseminar confusão assumisse uma política de prevenção de contágio, com lockdown, campanhas de orientação sobre as normas de segurança e um cronograma decente de vacinação. E se a maioria da população fosse mais consciente e desse mais atenção a especialistas do que a negacionistas.
Hoje, sequer podemos entrar em outros lugares, ninguém quer uma pessoa vinda do Brasil, nem mesmo nos países vizinhos. Estamos doentes de Brasil.
Mas cá estamos, tentando controlar os danos, fazendo a parte que nos cabe, vivendo como possível, sonhando com o que parece impossível. Mas não é. E há provas disso nos países que já estão controlando o vírus, embora tenhamos muito trabalho pela frente, individual e coletivo.
Minha mãe sempre me dizia: não há mal que sempre dure, não há bem que não se acabe. Talvez essa tenha sido a primeira de muitas lições sobre a brevidade da vida, de não me apegar ao sofrimento e nem ao conforto.
Mas certamente nada do que ela tenha me ensinado me preparou para o que estamos vivendo e que eu estaria fazendo o que faço hoje, que é tentar ajudar as pessoas a se sentirem melhor sobre si mesmas, os acontecimentos e o mundo, a desenvolver resiliência e autonomia emocional e melhorar sua atitude mental e sua habilidade de relacionamento. Isso tudo no pacote light do percurso: autoconhecimento como alfabetização na sua própria linguagem ou como sacerdócio mesmo, para a vida toda.
Como terapeuta, uma das expressões que eu tenho mais visto é de impotência. E o questionamento sobre como podemos continuar vivendo como “se nada estivesse acontecendo”. Bem, a resposta é que não podemos, não dá para ignorar ou naturalizar tantas mortes, mesmo que elas não tenham chegado próximas de você, o que acho impossível no momento.
Então eu não vim aqui hoje para despejar positividade tóxica em você e dizer que tem de ser resiliente e continuar com sua rotina normal, até porque não existe mais normalidade alguma possível diante do cenário atual. É tudo novo e estamos tentando nos adaptar para sobreviver.
E eu sei que você está realmente cansade, acredite. E quero dizer que eu entendo e que está tudo bem não estar conseguindo dar o melhor de si, que está tudo bem você parar algumas vezes do dia sentindo tristeza e frustração e chorando. Pode estar experimentando sintomas de exaustão, dores de cabeça, ansiedade, estresse, insônia à noite, sonolência durante o dia, dor nos olhos, dores musculares, falta de foco e desatenção.
Você pode estar sofrendo de Zoom Fatigue, ou cansaço de videoconferências, pelo uso excessivo de aplicativos de reuniões virtuais, não só no trabalho, mas também no âmbito relacional. Sem falar que o lazer agora também está circunscrito as telas, desde os computadores e smartphones como as TVs, o que produz um estresse no cérebro por excesso de estímulos eletrônicos.
Vim dizer que você realmente precisa se cuidar, porque ninguém pode fazer isso por você. E se quiser sobreviver a isso com sanidade mental, tem de exercitar, como diz o Emicida, a “serenidade como estratégia de sobrevivência”. E talvez a maior parte das coisas que você faz tenham perdido um pouco o sentido, mas faça-as assim mesmo. Disso depende seu sistema imunológico, sua saúde mental, as pessoas que você ama e o mundo.
A vida humana, enquanto experiência, continua sendo fascinante. E ela sempre vence.
Então, segue algumas dicas para você se situar melhor na realidade sem se perder no caminho:
- encontre alguma atividade física divertida e que te dê prazer
- experimente comidas prazerosas, mas mantenha uma alimentação saudável
- considere trocar a série ou BBB por um livro lúdico ou história em quadrinhos físicos
- respeite seu horário de trabalho e a pausa para o almoço
- faça pausas regulares de no mínimo 20 minutos entre as jornadas de estudo ou trabalho (lembre-se que não conseguirá manter sua produtividade se estiver exauste ou doente)
- durante as pausas, não use o celular ou computador, caminhe pela casa, faça alongamentos e respirações, cuide de plantas, brinque com seu pet, olhe pela janela e para o céu, se possível
- diminua a duração de reuniões ou chamadas para que nunca ultrapassem 60 minutos e pare por 30 minutos entre elas
- se desligue das redes sociais por longos períodos
- encontre ou redescubra um lazer ou hobby que não dependa de telas
- aproveite os finais de semana ou feriados para fazer outras atividades não relacionadas ao computador
- exercite a paciência e mantenha esperança que um dia voltaremos aos encontros presenciais
- FIQUE EM CASA, use máscara e álcool em gel em abundância sempre que precisar sair