O livro Dez Argumentos para Você Deletar Agora suas Redes Sociais que citei no último texto, escrito pelo músico e cientista da computação Jaron Lanier, defende a ideia do título de uma forma bastante convincente, com sua admoestação repetida a cada capítulo de “delete suas redes sociais”.
É possível que, assim como eu, já no início da leitura já esteja imaginando sua vida sem elas, elaborando outros modos e investigando novas possibilidades de estabelecer contatos. Espero que encontremos linhas de fuga e sejamos capazes de criar fissuras dentro delas próprias e mudar o cenário.
Veja, embora pareça que não viveríamos sem redes sociais, é precisamente o contrário, porque elas somente existem a partir de nosso engajamento. Esta palavrinha que, para quem está do lado da produção de conteúdo, é tão importante que transformou pessoas em personagens e patrimônio intelectual em produto descartável porque efêmero e reprodutível ao infinito.
Agora, quero alertar você sobre coisas que eu já sabia, mas que foram reforçadas pela leitura do livro: 1. Não existe privacidade na rede; 2. Seus dados nunca estão suficientemente seguros; 3. A fragilidade da democracia foi reforçada por este sistema; 4. Todes somos suscetíveis ao vício na Internet de algum modo; 4. O algoritmo não é autônomo, embora possa ter seu teor de “aleatoriedade”, como afirma Jaron Lanier, que sabemos que também foi programada.
O algoritmo eu tive de pesquisar melhor, porque o livro segue uma fórmula best-seller de simplificação de um tema complexo para leigo ver. Em resumo:
Um algoritmo nada mais é que uma sequência finita de ações executáveis que visam obter a solução de algum problema e ele deve ser bem definido, não ambíguo e efetivo.
Dito isso, o algoritmo não pensa ou escolhe por nós o que nos devolve a responsabilidade sobre o que estamos consumindo e compartilhando. Ele simplesmente mostra para você, em uma fórmula de tentativa e erro, do tipo: se ela curte isso, compartilha e comenta é porque gosta disso, então enviamos mais disso a ela.
E não tem limite para o que você possa ver “disso”, porque é um looping infinito que tem como principal objetivo manter sua atenção, já que seu tempo é dinheiro. Então, quanto mais tempo você se mantiver na roda, mais alimentará o sistema.
Não estou negando a influência que a Internet tem exercido sobre nosso comportamento, assim como tem capturado nosso desejo e afetado nossa saúde mental. Mas sim defendendo que precisamos assumir responsabilidade sobre como nos nutrimos nesse universo infinito de possibilidades ilimitadas. E como alimentamos o mundo por nossas virtuais janelas brilhantes.
A pandemia reforçou o paradoxo do “tão longe, tão perto” que a Internet nos permite e evidenciou nossas janelas virtuais como o indispensável meio de contato com o mundo.
Mas a experiência que estamos tendo há alguns anos no campo político, com o perturbador efeito dominó de compartilhamento de fake news - o que também tem causado prejuízos no combate a Covid - nos mostra que há tantos mundos quanto pessoas, porque cada um tem uma visão de realidade. Mesmo que para nós pareça completamente distorcida, cada visão de mundo é construída culturalmente pela experiência de cada pessoa em sua realidade cotidiana.
Mais do que lamentar o estado de coisas que vivemos, cabe a nós repensar nossa atuação micropolítica para uma mudança na macropolítica.
Aqui entra algumas dicas para que você possa usar de forma positiva suas redes sociais e dar uma contribuição efetiva para a construção de um mundo melhor, pautadas no bem maior:
Procure olhar as coisas além do seu próprio filtro, desejos, interesses e posição social. Lembre-se que por trás de cada face há uma pessoa igual a você, com as mesmas necessidades e que seus valores ou crenças não são parâmetro para o que é certo ou errado
Renuncie à positividade tóxica, entenda que a vida não é necessariamente só feliz ou só triste e sim uma mistura dos dois estados e procure exercitar a empatia com a dor do outro.
Verifique a fonte e a reflita sobre a verossimilhança de tudo que você recebe de conteúdo, seja no Facebook, Instagram ou Whatsapp, antes de compartilhar.
Renuncie ao impulso de dar sua opinião em tudo, respeite o lugar de fala das pessoas.
Só compartilhe conteúdos se você tiver certeza de que não desrespeitam ou desmerecem ninguém e dê sempre os devidos créditos de autoria
Renuncie a reprodutibilidade narcotizante, só compartilhe conteúdos que tiver certeza de que podem acrescentar a um debate ou contribuir com alguém
Renuncie ao impulso de saber, porque o simples saber de algo nem sempre nos permite evita-lo; preserve sua saúde mental fazendo detox ou jejum de redes sociais e notícias ao menos uma vez na semana
Siga perfis que agreguem positivamente sua saúde mental e que tragam bem-estar e melhorem seu humor
Evite conteúdos que tiram sua paz de espírito ou provocam tristeza e busque mais conhecimento que informações
Leia livros