Uma experiência que tive essa última semana me levou a reflexões que já vinham visitando minha mente e flertando com meus pensamentos.
Eu havia tirado um período curto, umas mini férias, com o intuito de fazer alguns exames de rotina e “dar um gás” na produção de uma jornada online que pretendia lançar em breve. Após alguns exames que fiz em consulta a oftalmologista, eu comecei a me sentir com tonturas e enjoos e isso me tirou do ar por alguns dias, sem ser capaz de olhar para telas, pequenas ou grandes.
Foi um período curto, mas que me obrigou a rever uma série de hábitos e minha rotina de autocuidado. Eu entendo que nosso corpo é muito mais inteligente que nós, que ele é capaz de nos dar sinais inequívocos de quando precisamos rever nossas atitudes. Se você o ignora, é certo que ficará doente por um período maior, até ser capaz de rever e mudar o que inicialmente produziu o sintoma.
Então, eu costumo dar atenção a pequenos eventos e busco investigar a causa do sintoma, mais do que buscar um alívio imediato para ele. Nesta circunstância percebi o quanto repentinamente tinha ficado escrava de criar conteúdo e postagens diárias no Instagram, seguindo a lógica do “quem não é visto, não é lembrado”, tanto por conta do lançamento da iminência da terceira edição da Jornada Florescer quanto de uma série de cursos rápidos de Marketing Digital que fiz nos últimos tempos.
Em pouco tempo me tornei o que eu mais temia.
A primeira reflexão que veio foi sobre o uso excessivo de telas. Nossa vida toda está em nossos celulares, poder-se-ia dizer que não somos capazes de viver sem ele. E após 18 meses de pandemia, o lazer também se restringiu às telas, bem como o estudo e interações sociais, que em grande parte dependeram de videoconferências.
Notei que eu o carregava para cima e para baixo, mesmo com as notificações silenciadas, como se não pudesse perder nada: uma mensagem de WhatsApp, a última postagem de alguém que sigo ou o quanto algo que publiquei havia engajado.
E após horas diante do computador seja nas inúmeras sessões online da semana, ou na produção dos conteúdos do blog, Instagram e Facebook, sentindo que ainda estava perdendo oportunidades de interação por não postar também no Linkedin ou em outras plataformas, notei que alguns momentos em que queria espairecer, caía na roda eterna do feed do Instagram.
Veja, não acho que seja uma plataforma propriamente ruim e sim o uso que fazemos dela. Eu não tenho queixas diretas a essa plataforma, porque foi ela, afinal, que democratizou o ‘lugar de fala’ de tantas minorias, que permitiu que entrássemos em contato com tantos temas importantes e que de outro modo talvez não veríamos.
Ainda acredito que a Internet pode ser um lugar bacana, se soubermos como construí-lo e o ocuparmos.
Eu posso dizer que descobri um universo muito interessante nas redes sociais, entrando em contato com pessoas que não teria conhecido de outro modo, seja pela distância geográfica ou cultural. E atribuo isso a minha capacidade de escolha de assuntos e em que contextos eu invisto meu tempo e energia.
Mas mesmo com filtro e crivo e seguindo perfis interessantes e informativos, a quantidade de imagens e informações que circula em meu feed do Instagram é alucinante e é impossível acompanhar sem prejuízo físico, mental e emocional.
E a sensação de que se não estivermos por dentro, vendo tudo o que se passa no mundo, é um comportamento já considerado uma síndrome por alguns e que foi designado F.O.M.O (fear of missing out) ou medo de ficar de fora, de estar perdendo alguma coisa se ficarmos off-line, a necessidade de saber tudo o que está acontecendo, o que as outras pessoas estão fazendo e isso pode causar uma boa dose de ansiedade entre outros sintomas.
A segunda reflexão que fiz foi exatamente sobre esse tipo de sentimento de estar “de fora” e querer se manter atualizada todo o tempo e de ficar atrás de informações porque não podemos não saber sobre um assunto e nem perder nada e, desse modo, vamos do site de notícias ao feed do Instagram, experimentando uma gama de emoções intensas que sobrecarrega nosso sistema.
O uso do Instagram claramente produz sobrecarga psíquica e emocional com a variedade de imagens e assuntos e nos coloca diante de uma comparação ininterrupta de nossas vidas com a vida dos outros. Seja pela questão da malfadada produtividade, já que todas as pessoas ali parecem muito ativas e prósperas, seja pelo excesso de filtros e recortes que parecem jogar na nossa cara o tempo todo que não somos boas o suficiente, que vai desde o skin care, passando pela nossa casa que deveria se parecer um pin (e o quanto nos esforçamos para isso), pelos últimos assuntos políticos e econômicos (que no caso do Brasil é particularmente estressante) ou as tretas do momento.
As plataformas de redes sociais foram criadas para que você passe o maior tempo possível dentro delas e para isso o algoritmo vai ficando cada vez mais sofisticado em mapear suas atividades e enviar mais dos seus assuntos de interesse ou lembrar você constantemente daquele produto que está namorando e ainda não decidiu adquirir. Ele não pensa ou escolhe por você, ele reflete seus pensamentos e suas escolhas, afinal, ele é somente um código.
As redes sociais foram programadas para gerar o desejo pela falta.
E os produtores de conteúdo, que são exatamente aquelas pessoas que mantém as plataformas de pé, profissionais não remunerados que tem de se justificar porque estão sem postar, mesmo que seja porque estão doentes ou com alguém que amam no hospital, sofrem para se manter atualizados nas últimas novidades e muitas vezes erram a mão por querer se manter visível. Entendo que alguns poucos conseguem realmente viver disso, assim como sei que salvo raras exceções, profissionais liberais não ganham visibilidade e reconhecimento sem ter de se tornar um pouco produtores de conteúdo e alimentar essa grande rede de imagens e informações, eu incluída. Ou como se diz: ter uma presença online. Para engajar tem de entreter.
Por essas e outras que eu vejo redes sociais como uma espécie de experimento social, onde nós, tanto produtores de conteúdo, quanto consumidores, somos como ratos de laboratório girando ininterruptamente em gaiolas, em semiconsciência, somente mantendo as rodas girando. Não é nada diferente da lógica capitalista de produção e consumo em que sofremos uma captura desde sempre. Eu diria até que são os maiores representantes dela atualmente.
Então, se você está às voltas com esse tipo de sobrecarga mental de uso de telas ou se tem se investido nessa roda de criação de desejo pela falta e busca de compensação que as redes sociais promovem e se está, como eu me percebi, precisando rever a jornada e refazer a rota, eu quero compartilhar algumas experiências que tenho feito e que estão mudando o curso da minha rotina.
Eu tenho usado a atenção plena em tudo o que tenho feito e percebi que o tempo parece até mesmo se tornar mais elástico e render mais do que quando eu estava correndo entre várias atividades, talvez pelo foco que coloco em cada uma delas.
Permita-me lhe dar três dicas de como fazer isso:
- Faça uma revisão de seu dia, perceba em quais momentos você esteve realmente presente;
- Procure manter seu celular distante quando estiver fazendo atividades como cozinhar, comer, cuidar das plantas, conversar com alguém;
- Encontre outros modos de se entreter nas horas livres que não dependam de telas, como passear, ler um livro ou fazer alguma atividade manual.
Até a próxima. Abraços de elevar!